COMPANHIA DE CAÇADORES 3566 - GUINÉ - 1972/74

Blogue que tem como objectivo contar as pequenas estórias vividas por cada um dos METRALHAS e que acabam por fazer a história de OS METRALHAS DE EMPADA (e Catió)

HISTÓRIA DA CCAÇ 3566 - 1º. - FORMAÇÃO

segunda-feira, 18 de junho de 2012

RECORDAR É VIVER - 18/06/1972

RECORDAR É VIVER - 18 de Junho de 1972

Em resultado da picagem diária de estrada que liga Empada à bolanha de Ualada, foram detectadas 2 minas anti-carro TMD, montadas paralelamente de forma a serem accionadas em simultâneo pelo rodado da frente de uma viatura. A Secção de Milícia que procedia à picagem do referido itinerário ligou via rádio ao aquartelamento, tendo-se deslocado imediatamente ao local uma equipa especializada em Minas e Armadilhas, que procederam à neutralização e levantamento das mesmas. A referida equipa era constituída pelo Alferes Miliciano Luís Afonso e pelos Furriéis Milicianos Olival e Maria. Ao continuar-se a picagem do mesmo itinerário, foi detectada e levantada uma mina anti-pessoal reforçada PMD-6. Neste mesmo dia, cerca das 13H00, elementos da população sob controlo IN, que se dirigiam a Empada, accionaram uma mina anti-pessoal. Os restantes elementos dirigiram-se para esta localidade de Empada, e alertaram o Comando local, que ordenou a saída duma força armada a fim de recolher os feridos. Chegada ao local verificou-se que um homem estava morto e que uma mulher apresentava esfacelamento de uma perna e que se encontrava em estado bastante grave, devido a hemorragia. Imediatamente socorrida foi depois evacuada pela FAP. Segundo informações recolhidas, julga-se que a implantação destas minas é uma reacção do IN ao transporte que fizemos do morteiro 10,7 agora instalado em Ualada, de onde se poderá atingir com maior eficácia as bases de fogo do IN.

sábado, 5 de maio de 2012

ATAQUE A NOVA COIMBRA-CATIÓ - OUTº 73


Mensagem de Olvaldo Colaço Pimenta - Furriel Miliciano Atirador - chegou a Empada em 4 OUT 73 e em 26 OUT 73 foi destacado para Catió:
O mais marcante para mim,foi numa tarde de Outubro de 1973 uma ataque de foguetão 120 perpetrado pelo PAIGC que atingiu Nova Coimbra-Catió e que infelizmente atingiu um grupo de crianças que inocentemente jogavam á bola.
Foi uma Berliet ao local para evacuar os feridos e mortos? para serem tratados dentro do quartel de Catió.
Felizmente havia medicos em Catió. Hoje não sei se haverá.


Mensagem de Joaquim Pinheiro da Silva - Soldado Atirador - destacado em Catió:
Pimenta... mais propriamente, foi no dia 8/10/73 por volta das 18,10... Tenho apenas um apontamento (não sei se é correto), foram +/- 9 granadas de foguetão 122m/m ( o meu 19o. ataque de armas pesadas)..Hoje ainda trago na memória o barulho... inconfundivel de uma "saida"... (um barulho assim meio parecido com um trovão ao longe, e depois de alguns segundos "aquele" silvar misturado com a cadência do sopro que o projetíl provoca) Pena que apenas tenha anotado as datas...deveria ter acrescentado o histórico. Abçs. de cá do outro lado do Atlântico
NOTA DO EDITOR:
Infelizmente este facto não consta da História da CCAÇ 3566. Deve haver um lapso de datas; a ser verdade que o Pimenta chegou a Catió em 26 Outº, este ataque não terá acontecido a 8. A esclarecer num futuro próximo.

terça-feira, 1 de maio de 2012

A PRIMEIRA BAIXA - 30 de Abril de 1972

O primeiro desaire sofrido, seis dias depois da chegada ao "mato":
24 de Abril de 1972 - A CCAÇ 3566 chegou a Empada depois de concluído a IAO - Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, em Bolama.
30 de Abril de 1972 - Durante uma acção de treino operacional, o Fur. Mil. Manuel Fernando Mota Silva Braga accionou uma mina anti-pessoa,l do inimigo, em Missirá Beafada.
01 de Maio de 1972 - Foi evacuado para o Hospital Militar de Bissau, por ferimentos em combate.
Posteriormente foi evacuado para a Metrópole, não tendo voltado mais à Companhia.
Reside actualmente em Braga.

domingo, 29 de abril de 2012

OS DIAS E AS SOMBRAS DO CAJU





Fernando Peixeiro – Agência Lusa

Bissau, 26 abr (Lusa) - Milhares de guineenses vivem por estes dias à sombra das árvores e das incertezas, apanhando caju, o principal produto que a terra dá, mas sem saber se, devido ao golpe de Estado, o poderão vender.

Homens e mulheres, novos e velhos, deixaram as cidades e começaram um trabalho de quatro meses, sem pensar muito nas voltas e reviravoltas políticas e militares de Bissau mas sabendo que delas depende o seu futuro.

É o caju que faz viver a Guiné-Bissau. Os relatórios do FMI referem o produto, que consoante boa ou má campanha faz subir ou descer o produto interno bruto. Na Guiné-Bissau, 85 por cento das pessoas das zonas rurais são pequenos produtores e no total o país exportou em 2011 quase 200 mil toneladas de caju, que renderam 156 milhões de euros (segundo o presidente da Comissão Nacional do Caju).

São números que agora pouco importam. Como pouco importa o golpe de Estado de dia 12 e que deixou o país mergulhado numa crise sem vim à vista. Pouco importa o que vai na praça (centro de Bissau) para Augusta Djú, pouco importa para Paulina Có, pouco importa para uma idosa de Prabis (arredores de Bissau) que fica grata por vender quatro mangas por mil francos (1,5 euros) e poder comprar um quilo de arroz.

"Só tenho manga verde e caju para dar aos meus filhos", queixa-se outra mulher, não muito longe de onde Paulina Có passa as manhãs a encher baldes de caju.

"Seis bacias por dia", conta à Lusa Paulina Có, moradora de Bissau mas nascida em Prabis, onde volta todos os anos para a apanha do caju. Sai cedinho com os baldes e bacias e é fácil enchê-los, porque não se passa um minuto que não se oiça mais um caju a cair.

Apanha-se apenas a fruta que cai. Paulina leva tudo, o fruto seco (a castanha) e o fruto em si, polposo e sumarento. Depois tira a castanha e passa a tarde a esmagar o fruto (o pedúnculo) para um bidão. É da "água de caju" fermentada que se faz o vinho, afinal o único proveito que tem, porque a castanha do caju pertence ao dono da quinta.

Como Paulina são milhares de apanhadores e de fazedores de vinho. Augusta Djú não tira as mãos dos pequenos frutos entre o verde e o cor de laranja quando diz que "a campanha deste ano não presta" e que "não há nada para comer".

Nos dias anteriores, e nos próximos certamente, lá estará a fazer "água de caju" (o vinho é só depois de fermentado o sumo). Uma luta diária: "Se conseguir hoje para comer, tenho de começar logo a pensar no dia de amanha".

"A castanha de caju custava por quilo 250 francos mas agora só estão a dar 200, não dá nada. As pessoas estão sentadas à espera, toda a gente está com medo de fazer esta campanha, não temos nada, só fome", queixa-se, também ela sabendo que o golpe de Estado pode levar a que ninguém compre o caju da Guiné-Bissau.

"Não sei, não sei, pode ser comprado ou não. Vamos sentar e vamos esperar", diz, agora já sem amassar o fruto.

Para já, e porque os filhos precisam de comer, vai armazenando o sumo para fazer vinho. Um bidão de 25 litros pode ser vendido, diz, até a 500 francos (setenta cêntimos), o preço de três pães e sobram 50 francos.

"O caju não é meu, o dinheiro é só o da água", diz também Paulina Có, agora já ao fim da tarde depois da apanha, à beira da estrada de Prabis, também ela a esmagar o pedúnculo. Ela e outras mulheres, enquanto crianças, muitas, brincam à volta.

Por ser quase noite acende-se uma fogueira no chão e uma das mulheres mete uma frigideira velha ao lume com castanha de caju, acabada de apanhar. Em 10 minutos está o fruto pronto para descascar. E servir de jantar.

Não se fala de política ou de políticos, de golpes de Estado ou de militares. Nem dos 10 milhões de euros que o governo arrecadou em 2011 só em receitas alfandegárias. Nem do milhão e meio de toneladas de polpa (rica em vitamina C) que foi desperdiçada. Nem dos 333 francos que custou cada quilo vendido no ano passado. Nem dos 45 milhões de euros distribuídos pelo interior do país em 2010, graças à campanha do caju.

Nada se fala a não ser da fome que ameaça. E mesmo assim sempre com um sorriso grande, que só consegue ter quem está longe da "praça".

Sorriso natural. Porque, como diz Augusta Djú ainda só estão na fase de preparação do vinho. "Agora é sumo ainda, mas se se põe no bidão fermenta". E, garante, é saboroso. Quem o bebe bate palmas. E ri.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

HISTÓRIA DA CCAÇ. 3566 - Post 4 - Terreno


Cremos ser esta a altura, após cinco semanas de permanência em Empada, em que melhor poderemos dar uma ideia da situação geral no que respeita ao terreno, ao IN, à população civil e às NT.
TERRENO
A Zona de Acção apresenta sensivelmente a configuração de um pentágono irregular, limitado a Norte pelo Rio Grande de Buba, a Sul pelo Rio Tombali e penínsulas de Caúr de Baixo e Pobreza, a Este pelo Rio Jassenca e a Oeste pelo Rio Tarna. A distância entre Empada, situada mais ou menos a meio desse pentágono, e o limite mais afastado da ZA é de cerca de 16 Kms. É nítida a predominância de bolanhas, zonas de aspecto pantanoso destinadas ao cultivo de arroz, e de rios na área circunvizinha de Empada e, portanto, penosos os itinerários que a atravessam. É visível ainda o traçado de uma antiga estrada que ligava Empada a Buba bem como a Catió e a Darsalame, estrada que, presentemente, se encontra inutilizada no que respeita à circulação de viaturas. Existem apenas na ZA duas estradas transitáveis: uma que liga Empada a Ualada (bolanha da Ponderosa) e a outra que liga ao cais; têm ambas aproximadamente a extensão de 4 kms. Estas são estradas importantíssimas já que através da primeira é efectuada o transporte de arroz, alimento base da população nativa, é através da segunda que são transportados os reabastecimentos destinados a esta Unidade. Não existem quaisquer aglomerados populacionais dentro da ZA, uma vez que após o início da guerra toda a população da área que não se refugiou no seio do IN, se deslocou para Empada, procurando abrigo e protecção junto às NT. Os principais recursos locais, dada a natureza do terreno, são a agricultura, a caça e a pesca. As produções mais importantes, além do arroz, ainda que em quantidades insuficientes, são a mandioca, o amendoim e o milho. Existem poucas árvores de fruto, podendo-se no entanto assinalar a existência de bananeiras, laranjeiras, cajueiros e coleiras. A cola, possuidora de propriedades toxicómanas, ainda que em fraco grau, é consumida em abundância pela população nativa. Não há muitas variedades de espécies piscícolas nos rios desta área; proliferam no entanto em considerável quantidade no Rio grande de Buba e seus afluentes, a bicuda, e em menor abundância a raia, a tainha e o tubarão. A caça é abundante na época das secas, ainda que não abunde em grande variedade. Consta de gazelas, porcos e cabras de mato, sin-sin e búfalos.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

DIA DO COMBATENTE - 9 DE ABRIL


DIA DO COMBATENTE
Celebra-se no dia 9 de Abril, dia que marca o início da Batalha de La Lys, durante a 1ª. Guerra Mundial.
A Batalha de La Lys, deu-se entre 9 e 29 de Abril de 1918, no vale da ribeira da La Lys, sector de Ypres, na região da Flandres, na Bélgica.
Nesta batalha, que marcou a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, os exércitos alemães provocaram uma estrondosa derrota às tropas portuguesas, constituindo a maior catástrofe militar portuguesa depois da batalha de Alcácer-Quibir, em 1578.
A frente de combate distribuía-se numa extensa linha de 55 quilómetros, entre as localidades de Gravelle e de Armentières, guarnecida pelo 11° Corpo Britânico, com cerca de 84 000 homens, entre os quais se compreendia a 2ª divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP), constituída por cerca de 20 000 homens, dos quais somente pouco mais de 15 000 estavam nas primeiras linhas, comandados pelo general Gomes da Costa. Esta linha viu-se impotente para sustentar o embate de oito divisões do 6º Exército Alemão, com cerca de 55 000 homens comandados pelo general Ferdinand von Quast (1850-1934). Essa ofensiva alemã, montada por Erich Ludendorff, ficou conhecida como ofensiva "Georgette" e visava à tomada de Calais e Boulogne-sur-Mer. As tropas portuguesas, em apenas quatro horas de batalha, perderam cerca de 7500 homens entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros, ou seja, mais de um terço dos efectivos, entre os quais 327 oficiais.
Entre as diversas razões para esta derrota tão evidente têm sido citadas, por diversos historiadores, as seguintes:
§  A revolução havida no mês de Dezembro de 1915, em Lisboa, que colocou na Presidência da República o Major Doutor Sidónio Pais, o qual alterou profundamente a política de beligerância prosseguida antes pelo Partido Democrático.
§  A chamada a Lisboa, por ordem de Sidónio Pais, de muitos oficiais com experiência de guerra ou por razões de perseguição política ou de favor político.
§  Devido à falta de barcos, as tropas portuguesas não foram rendidas pelas britânicas, o que provocou um grande desânimo nos soldados. Além disso, alguns oficiais, com maior poder económico e influência, conseguiram regressar a Portugal, mas não voltaram para ocupar os seus postos.
§  O moral do exército era tão baixo que houve insubordinações, deserção e suicídios.
§  O armamento alemão era muito melhor em qualidade e quantidade do que o usado pelas tropas portuguesas o qual, no entanto, era igual ao das tropas britânicas.
§  O ataque alemão deu-se no dia em que as tropas lusas tinham recebido ordens para, finalmente, serem deslocadas para posições mais à rectaguarda.
§  As tropas britânicas recuaram em suas posições, deixando expostos os flancos do CEP, facilitando o seu envolvimento e aniquilação.
Trincheiras de La Lys


O resultado da batalha já era esperado por oficiais responsáveis dentro do CEP, Gomes da Costa e Sinel de Cordes, que por diversas vezes tinham comunicado ao governo português o estado calamitoso das tropas.
No entanto, é de realçar o facto de a ofensiva "Georgette" se tratar duma ofensiva já próxima do desespero, planeada pelo alto comando da Alemanha Imperial para causar a desorganização em profundidade da frente aliada antes da chegada das tropas norte-americanas, que nessa altura se encontravam prestes a embarcar ou já em trânsito para a Europa.
O objectivo do general Ludendorff no sector português consistia em atacar fortemente nos flancos do CEP, consciente que nesse caso os flancos das linhas portuguesa e britânica vizinha recuariam para o interior das suas zonas defensivas respectivas em vez de manterem uma frente coerente, abrindo assim uma larga passagem por onde a infantaria alemã se pudesse lançar. Coerente com essa táctica e para assegurar que os flancos do movimento alemão não ficassem desprotegidos, os estrategas alemães decidiram-se a simplesmente arrasar o sector português com a sua esmagadora superioridade em capacidade de fogo artilheiro (uma especialidade alemã), e deslocando para a ofensiva um grande número de efectivos como se explica acima, (nas palavras dos próprios: "Vamos abrir aqui um buraco e depois logo se vê!", o que também indicia o estado de espírito já desesperado do planeamento da ofensiva). Nestas condições, não surpreende a derrocada do CEP, que apesar de tudo resistiu como pôde atrasando o movimento alemão o suficiente para as reservas aliadas serem mobilizadas para tapar a brecha.
Esta resistência é geralmente pouco valorizada em face da derrota, mas caso esta não se tivesse verificado a frente aliada na zona poderia ter sido envolvida por um movimento de cerco em ambos os flancos pelo exército alemão, o que levaria ao seu colapso. Trata-se de uma batalha com muitos mitos em volta a distorcerem a percepção do realmente passado nesse dia 9 de Abril de 1916.
Uma situação análoga à da batalha de La Lys foi a da contra-ofensiva alemã nas Ardenas na parte final da Segunda Guerra Mundial (Batalha do Bulge), que merece comparação pelas semelhanças entre ambas. Novamente um exército aliado escasso para defender o sector atribuído (I Exército dos Estados Unidos da América), sujeito a uma ofensiva desesperada por parte do Alto Comando Alemão (OKW - Oberkommando der Wehrmacht), para desorganizar a frente aliada arrombando-a em profundidade, usando para o efeito quatro exércitos completos (dois blindados) para atacar no sector do I exército norte-americano. A consequência foi o colapso local da frente, com retirada desorganizada dos americanos e com milhares a serem feitos prisioneiros pelos alemães, contido depois com as reservas aliadas (incluindo forças sobreviventes da Batalha de Arnhem ainda em recuperação como a 101ª e a 82ª divisões aerotransportadas) e com o desvio de recursos de outros exércitos aliados nas regiões vizinhas (com destaque para o III Exército do general Patton), obrigando a passar duma situação de ofensiva geral aliada à defesa do sector das Ardenas a todo o custo. Os aliados só retomariam a iniciativa na frente ocidental passado mais de um mês.
Comparando-se ambas compreende-se melhor a derrocada das forças do CEP em La Lys.
A experiência do Corpo Expedicionário Português no campo de batalha ficou registada na publicação João Ninguém, soldado da Grande Guerra, com ilustrações e texto do capitão Menezes Ferreira.

O soldado Milhões
Nesta batalha a 2ª Divisão do CEP foi completamente desbaratada, sacrificando-se nela muitas vidas, entre os mortos, feridos, desaparecidos e capturados como prisioneiros de guerra. No meio do caos, distinguiram-se vários homens, anónimos na sua maior parte. Porém, um nome ficou para a História, deturpado, mas sempiterno: o soldado Milhões.
De seu verdadeiro nome Aníbal Milhais, natural de Valongo, em Murça, viu-se sozinho na sua trincheira, apenas munido da sua menina, uma metralhadora Lewis, conhecida entre os lusos como a Luísa. Munido da coragem que só no campo de batalha é possível, enfrentou sozinho as colunas alemãs que se atravessaram no seu caminho, o que em último caso permitiu a retirada de vários soldados portugueses e britânicos para as posições defensivas da rectaguarda. Vagueando pelas trincheiras e campos, ora de ninguém ora ocupados pelos alemães, o soldado Milhões continuou ainda a fazer fogo esporádico, para o qual se valeu de cunhetes de balas que foi encontrando pelo caminho. Quatro dias depois do início da batalha, encontrou um major escocês, salvando-o de morrer afogado num pântano. Foi este médico, para sempre agradecido, que deu conta ao exército aliado dos feitos do soldado transmontano.
Regressado a um acampamento português, um comandante saudou-o, dizendo o que ficaria para a História de Portugal, "Tu és Milhais, mas vales Milhões!". Foi o único soldado raso português da Primeira Guerra a ser condecorado com o Colar da Ordem da Torre e Espada, a mais alta condecoração existente no país.
(texto retirado de Wikipédia)
Cemitério Militar Português, em França

MANUEL GALVÃO - DIA DE NATAL DE 1973

Mensagem de Manuel Galvão, Soldado Condutor-Auto, da CCAÇ 3566, actualmente a viver em Argenteuil, França, com data de 7 de Abril 
Foi no dia de Natal de 73; refeição melhorada, creio-que foi bacalhau com feijão miúdo, não estou certo. Mas em todo caso nesse dia havia vinho com abundancia, era zurrapa... mas havia vinho; eu atravessava um mau momento de moral e como estava no meio de dois gajos, não me recordo dos nomes, sei que me aproveitei da distração deles e pifei-lhes o vinho e bota e vira... Com o calor desse dia e o fígado bem irrigado a mandar o álcool p'ro cérebro, ora fiquei queimado... Porra, não é que peguei no meu Unimog e sem ver nada pela frente, de gás a fundo, lá fui eu parar aonde estavam as lavadeiras (belas bajudas), por baixo do nosso abrigo, olha foi um zum-zum nesse dia!!! Depois o Capitão queria-me mandar prender, eu sabe Deus... Mas no fim deu tudo certo com uma boa repreensão. Mas valha-me Deus nesse dia eu estava mesmo em perdição e ainda por cima os meus colegas de mesa, so depois é que souberam quem lhes limpou a bebida.